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Escritoras que romperam o silêncio: 12 vozes femininas na literatura

Por Andrômeda / 28 de maio de 2025

Durante muito tempo, o cânone literário foi construído à custa do silêncio de muitas mulheres. Escritoras que criaram em segredo, que publicaram sob pseudônimos, que foram ignoradas por editores ou reduzidas a personagens secundárias da própria história.

Mas o século XX foi um ponto de virada. Entre guerras, ditaduras, revoluções e transformações sociais profundas, inúmeras autoras decidiram romper o silêncio — com coragem, invenção e linguagem própria. Elas escreveram sobre o corpo, o exílio, o desejo, a maternidade, o absurdo, a beleza e a dor de existir em um mundo que tantas vezes as quis caladas.

Este artigo reúne 12 escritoras do século XX que desafiaram o apagamento e deixaram marcas profundas na literatura mundial. Nem todas foram celebradas em vida — mas todas são indispensáveis.

1. Clarice Lispector (Brasil)

Clarice Lispector não escrevia histórias: escrevia estados de espírito. Nascida na Ucrânia e criada no Brasil, Clarice rompeu com as convenções narrativas do seu tempo e criou uma linguagem que escapa das definições — introspectiva, filosófica, fragmentária e profundamente sensível.

Em uma época em que as mulheres ainda eram empurradas para papéis decorativos ou domésticos, Clarice ousou escrever sobre o vazio, o tédio, o feminino em crise, o desejo que não se nomeia, a epifania que irrompe no cotidiano. Seus livros são feitos de silêncio e ruptura — e, por isso mesmo, falam alto.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque Clarice transformou a experiência íntima da mulher em matéria literária legítima — abrindo espaço para uma escrita subjetiva, ousada e metafísica.

2. Alfonsina Storni (Argentina)

Alfonsina Storni foi uma mulher à frente de seu tempo — e pagou o preço por isso. Nascida na Suíça e criada na Argentina, foi uma das primeiras vozes femininas a ocupar espaço com força no modernismo hispano-americano, desafiando tabus de gênero, sexualidade e maternidade com versos cheios de ironia, coragem e angústia.

Em uma sociedade dominada por padrões patriarcais, ela ousou falar do desejo da mulher, da opressão social, da solidão e da busca por liberdade. Sua poesia é emocional e política ao mesmo tempo — delicada e cortante como um espinho.

Alfonsina morreu tragicamente, entrando no mar em um gesto poético e definitivo. Mas sua voz permanece — ecoando nas gerações que vieram depois.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque escreveu sobre o feminino sem pudores, em um tempo em que isso era escandaloso — abrindo caminho para que outras mulheres falassem de si mesmas com verdade.

3. Toni Morrison (Estados Unidos)

Toni Morrison não apenas escreveu romances inesquecíveis — ela reescreveu a história da literatura americana ao colocar o sujeito negro no centro da narrativa. Primeira mulher negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura, Morrison mergulhou fundo nas dores da escravidão, do racismo, da memória e do pertencimento, sempre com uma linguagem poética e feroz.

Sua obra não suaviza os traumas do passado: ela os encara com lucidez e beleza. Ao dar voz às mulheres negras esquecidas pela história, Morrison também falou sobre maternidade, identidade, silêncio e sobrevivência.

Sua escrita é profundamente política, mas nunca panfletária — ela nos faz sentir o peso das estruturas de poder sem nunca perder a dimensão humana dos seus personagens.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque construiu, com palavras, uma genealogia literária negra — e mostrou ao mundo que havia histórias urgentes demais para seguir caladas.

4. Amara Moira (Brasil)

Amara Moira é escritora, doutora em teoria literária, travesti e uma das vozes mais afiadas da literatura e do pensamento crítico brasileiro atual. Sua escrita é marcada pela fricção entre experiência e linguagem, e não hesita em expor o corpo, o desejo, a violência e as contradições sociais com coragem e lirismo.

Romper o silêncio, para Amara, não é uma metáfora: é um gesto encarnado, que passa pela ocupação dos espaços acadêmicos, das ruas e das páginas. Sua literatura nasce do excesso, da raiva e da delicadeza — sem nunca se render à normatividade.

Ela escreve para ferir e para curar. Sua obra é memória, manifesto e arte — tudo ao mesmo tempo.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque transformou sua vivência travesti em palavra escrita com densidade, beleza e radicalidade, afirmando a literatura como lugar legítimo de existência.

5. Annie Ernaux (França)

Annie Ernaux escreve como quem dissseca. Sua linguagem é enxuta, impiedosa, desprovida de ornamentos — mas cada frase carrega o peso da memória, da classe social, da vergonha e da resistência. Nascida em 1940, Ernaux construiu uma obra inteira em torno da própria vida, mas longe do narcisismo: ela escreve o “eu” como campo de tensão entre o individual e o coletivo.

Seus livros tratam da adolescência, da sexualidade, do aborto, do luto, da maternidade e da velhice — sempre com um olhar social agudo. Ao narrar suas experiências, Ernaux ilumina aquilo que é vivido por muitas, mas raramente dito.

Em 2022, foi laureada com o Nobel de Literatura — um reconhecimento à força silenciosa de sua escrita, que expõe o que a sociedade prefere esconder.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque transformou a experiência da mulher comum — com todas as suas dores e contradições — em matéria literária de altíssima relevância política e estética.

6. Natalia Ginzburg (Itália)

Natalia Ginzburg foi uma das vozes mais singulares da literatura italiana do século XX. Nascida em 1916, em uma família intelectual e antifascista, Ginzburg atravessou as grandes guerras, o exílio, a dor pessoal e a reconstrução da Itália — e transformou tudo isso em literatura sem nunca soar grandiosa. Pelo contrário: sua escrita é seca, contida, quase sussurrada. Mas por isso mesmo, poderosa.

Ela escreveu sobre a vida doméstica, a perda, os vínculos familiares e os silêncios que habitam as relações humanas. Sua prosa é tão simples quanto precisa — e carrega, nas entrelinhas, uma densidade emocional avassaladora. Ginzburg mostrou que a vida comum também é campo de batalha, também é literatura.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque escreveu sobre o que não se dizia — as mágoas íntimas, os fracassos familiares, os pequenos gestos cotidianos — e deu voz à mulher como observadora sutil do mundo e da história.

7. Forugh Farrokhzad (Irã)

Forugh Farrokhzad foi uma poeta iraniana que desafiou todas as normas: religiosas, sociais, familiares e literárias. Nascida em 1935 e falecida tragicamente aos 32 anos, deixou uma obra breve, mas revolucionária, que abalou os alicerces de uma cultura patriarcal e conservadora.

Escreveu abertamente sobre o corpo da mulher, o desejo, a liberdade e a frustração de viver em uma sociedade que exigia obediência e silêncio. Foi duramente criticada, censurada e marginalizada — mas também profundamente lida e amada por aqueles que viam em sua poesia um reflexo de si mesmos.

Sua escrita é carregada de intensidade emocional, beleza imagética e uma voz lírica inconfundível. Farrokhzad não escrevia apenas para falar de si: escrevia para libertar todas as mulheres condenadas ao silêncio.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque ousou escrever como mulher em primeira pessoa em um contexto em que isso era uma transgressão — e fez da poesia um grito de emancipação.

8. Rosario Castellanos (México)

Rosario Castellanos foi uma das grandes intelectuais mexicanas do século XX — escritora, poeta, filósofa e diplomata. Nascida em 1925, viveu entre o privilégio e a consciência crítica, dedicando sua obra à reflexão sobre opressão, identidade indígena, gênero e exclusão social.

Sua escrita é marcada por uma profunda empatia com os marginalizados — sobretudo mulheres e povos originários — e por uma lucidez que antecipa o feminismo latino-americano moderno. Em seus romances, ensaios e poemas, Castellanos desmonta os discursos dominantes com inteligência e delicadeza.

Ela escreveu em um tempo e lugar que esperavam silêncio das mulheres — mas escolheu falar. E suas palavras ainda ressoam com urgência.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque deu nome e forma à dor das mulheres indígenas, das mulheres intelectuais, das mulheres invisibilizadas — e fez da literatura um ato de consciência.

9. Elena Garro (México)

Elena Garro foi uma das grandes pioneiras do realismo mágico — embora muitas vezes ofuscada por figuras masculinas do movimento, como García Márquez. Nascida em 1916, Elena foi jornalista, dramaturga, contista e romancista, e sua obra traz uma combinação única entre política, memória e elementos fantásticos.

Ela denunciou o autoritarismo, o machismo e a opressão social com coragem — e por isso foi perseguida, censurada e injustamente esquecida durante anos. Sua escrita é ao mesmo tempo poética e crítica, marcada por personagens femininas complexas e uma visão muito particular da história mexicana.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque escreveu contra o poder, em todas as suas formas — e pagou caro por isso. Mas sua obra sobreviveu, e hoje é redescoberta como essencial para a literatura latino-americana.

10. Hilda Hilst (Brasil)

Hilda Hilst escreveu à margem — e talvez por isso mesmo, tão à frente de seu tempo. Poeta, ficcionista, dramaturga, sua obra transita entre o erótico e o metafísico, o sagrado e o carnal, a loucura e o silêncio. Nascida em 1930, Hilda se isolou no interior de São Paulo para viver em dedicação total à escrita — e construiu um dos legados mais complexos e fascinantes da literatura brasileira do século XX.

Ela rompeu o silêncio escrevendo sobre tudo que incomoda: o desejo feminino, o corpo envelhecido, Deus, a morte, o delírio. Sua prosa é labiríntica, sua poesia, vertiginosa. Recusou o mercado editorial, os rótulos, as concessões. Hilda não escrevia para agradar — escrevia para dizer o que precisava ser dito.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque ousou colocar a mulher no centro do pensamento erótico, filosófico e existencial — numa literatura que nunca foi domada.

11. Marguerite Duras (França/Vietnã)

Marguerite Duras escreveu como quem esculpe o silêncio. Nascida em 1914, no então Vietnã colonial, e radicada na França, ela foi romancista, dramaturga, cineasta e uma das figuras mais enigmáticas da literatura europeia do século XX. Sua escrita é marcada por frases pausadas, repetições hipnóticas e personagens que vivem à beira da ausência — do amor, da palavra, da história.

Duras transformou a linguagem literária ao recusar explicações e investir no não-dito. Suas obras falam do desejo, da infância, do luto, da guerra e da solidão com uma contenção que arde. E ela fez tudo isso sendo mulher num universo ainda dominado por vozes masculinas, muitas vezes resistindo à categorização.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque escreveu sobre a vulnerabilidade com coragem estética — e mostrou que o silêncio também pode ser linguagem.

12. Jamaica Kincaid (Antígua e Barbuda)

Jamaica Kincaid nasceu em Antígua, uma pequena ilha no Caribe colonizado, e transformou sua experiência de origem em combustível literário. Em seus romances e ensaios, ela escreve sobre maternidade, colonialismo, racismo, relações de poder e a brutalidade das heranças impostas.

Sua linguagem é direta, afiada, quase sem concessões — mas há sempre uma camada emocional latente, uma dor contida, um desejo de quebrar o ciclo. Em especial, ela aborda a complexa relação entre mães e filhas como metáfora para a opressão colonial. Kincaid é daquelas escritoras que parecem narrar com raiva, mas também com um desejo profundo de cura.

Por que ela rompeu o silêncio?
Porque desnudou as feridas do colonialismo e da opressão de gênero com uma voz literária que se recusa a ser apaziguada ou domesticada.

Conclusão

Para muitas dessas mulheres, escrever foi um ato de desobediência, sobrevivência e invenção. Elas desafiaram as normas de seus tempos, reescreveram os contornos da linguagem e abriram espaço para que outras vozes pudessem existir.

Cada uma das autoras reunidas aqui fez da literatura um lugar de tensão, transformação e memória. E embora pertençam a geografias e contextos distintos, todas têm algo em comum: a coragem de falar quando tudo ao redor parecia exigir silêncio.

Que essas leituras não terminem aqui. Que sirvam de ponte, de provocação, de impulso para escutar outras tantas vozes que ainda ecoam nas bordas do visível.

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